27/05/2021 – Piauí – #Verificamos: Número de mortes em maio de 2021 não se manteve “estável” na comparação com 2019

Circula pelo WhatsApp um texto que compara a quantidade de mortes no país entre maio de 2019 e maio de 2021 e afirma que o número se manteve praticamente igual, mesmo em meio à pandemia da Covid-19. Isso revelaria, segundo o conteúdo, uma manipulação nas estatísticas de óbitos com o intuito de “criar um ambiente de pânico e desespero”. Por WhatsApp, leitores da Lupa sugeriram que esse conteúdo fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação​:

“Segundo o Portal da Transparência de Registro Civil, base de dados regulada pelo governo federal, e, portanto, fonte de dados oficiais sobre as estatísticas de mortes no país, o mês de maio (do dia 01/05 à presente data do dia 24/05), revela um empate técnico em relação ao número de mortes por doenças respiratórias de 2021, em plena pandemia, e 2019, ano em que o coronavírus nem existia ainda. Foram 80.117 mortes de 01/05 a 24/05 de 2019. Já entre 01/05 de 2021 e 24/05 de 2021, 81.765. Um número praticamente igual e, sem dúvida alguma, nada alarmante em relação a um suposto “crescimento” do número de mortes em relação a outros anos passados.”

Trecho de texto do site Relevante News que circula em grupos de WhatsApp

FALSO

A informação analisada pela Lupa é falsa. O Portal da Transparência do Registro Civil, citado como fonte pelo site Relevante News, não é alimentado com informações em tempo real e, portanto, dados para datas recentes são incompletos. O prazo legal para inclusão das informações é de 14 dias. Por isso, a comparação feita não é adequada e não demonstra que a situação atual da pandemia não é “alarmante”.

O portal é alimentado com dados de cartórios de todo o país. A plataforma avisa, no rodapé da página, que a notificação de registros de óbitos pode levar algum tempo até ser efetivada. “A família tem até 24h após o falecimento para registrar o óbito em Cartório que, por sua vez, tem até cinco dias para efetuar o registro de óbito, e depois até oito dias para enviar o ato feito à Central Nacional de Informações do Registro Civil (CRC Nacional), que atualiza esta plataforma”, informa o portal.

O texto analisado pela Lupa foi publicado em 24 de maio de 2021 e levou em conta os dados disponíveis na plataforma até aquela data. No entanto, para obter as informações corretas do período, precisaria ter aguardado pelo menos 14 dias — prazo legal para que todos os óbitos possam ser notificados ao portal. A demora na alimentação pode ir além desse prazo por razões burocráticas. Há casos verificados de demora superior a um ano na alimentação dessa plataforma.

Realizando novamente a consulta três dias depois da publicação do texto, o gráfico aponta dados mais atualizados. Entre 1º e 24 de maio de 2019, a plataforma indica 80.135 óbitos, número praticamente idêntico ao citado no texto. Para 2021, porém, o portal já informava 98.863 mortes, 17 mil a mais do que citado no conteúdo. Os dados completos podem levar mais 11 dias para serem computados.

Analisando os dados de março de 2021, pior mês da pandemia no Brasil, por exemplo, o portal indica estabilidade do número de óbitos, excluindo-se aqueles causados pela Covid-19. Como já se passaram mais de 14 dias desde o último dia de março, as informações do mês estão mais completas na plataforma.

Ao longo de 2020, essa comparação inadequada foi feita em diversas ocasiões para minimizar a pandemia, inclusive pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). A Lupa publicou reportagem explicando porque essa comparação deve ser feita com cautela.

“Quem não se lembra, por exemplo, do decreto de João Dória que abriu a temerária brecha para que os profissionais de saúde colocassem o Covid como causa da morte sempre que a causa real não estivesse evidente de imediato?”

Trecho de texto do site Relevante News que circula em grupos de WhatsApp

FALSO

A informação analisada pela Lupa é falsa. O decreto estadual 64.880 assinado em março de 2020 pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB), não autoriza, como boatos à época sugeriam, que todos que morressem no SUS recebessem atestado de óbito por Covid-19. Na verdade, o decreto determina que todos os cadáveres não identificados sem indícios de violência devem ser tratados como potenciais portadores de Covid-19, e podem ser submetidos a necropsia de forma indireta. Essa é uma forma de evitar que o manejo dos corpos ameace a saúde de profissionais que realizam esse tipo de exame.

À época, Doria garantiu que todos os óbitos passam por testes antes de serem contabilizados por coronavírus. “Um corpo pode transmitir coronavírus por até 72 horas após o falecimento. O protocolo visa diminuir o trânsito de cadáveres infectados, evitando que o corpo tenha que ser levado ao Serviço de Verificação de Óbitos para ser atestada a morte. Com o decreto, o médico pode emitir o atestado no local e colher o teste se houver suspeita para COVID-19. O caso somente será contabilizado como COVID-19 após o teste dar positivo”, explicou o governador nas redes sociais.

Esta‌ ‌verificação ‌foi sugerida por leitores através do WhatsApp da Lupa. Caso tenha alguma sugestão de verificação, entre em contato conosco pelo número +55 21 99193-3751.

Editado por: Chico Marés

Fonte: Piauí – https://piaui.folha.uol.com.br/lupa/2021/05/27/verificamos-numero-mortes-estavel/

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