03/05/2021 – G1 – Juiz de Fora registra mais mortes que nascimentos nos primeiros quatro meses de 2021

Análise feita pelo G1 aponta que o maior número de mortes está diretamente ligado à Covid-19; veja o que dizem os especialistas.

Os primeiros quatro meses de 2021 foram marcados por mais mortes do que nascimentos em Juiz de Fora. Foram 1.944 novas vidas contra 2.267 óbitos registrados na cidade. Os dados são do Portal da Transparência de Registro Civil. O G1 conversou com especialistas sobre a queda de nascimentos na cidade.

O maior número de mortes está diretamente ligado à pandemia, pois em quase 100 dias de 2021, o município registrou 672 mortes por Covid-19, mais do que por qualquer outra doença.

No dia 29 de abril, a cidade bateu o recorde de casos positivos da doença: 650. Até sexta-feira (30), são 29.852 casos confirmados e 1.426 óbitos.

Sobre a queda no número de nascimentos, médicos ouvidos pela reportagem dizem que a diminuição pode estar ligado com o fato das mulheres estarem adiando a gestação devido ao cenário crítico da pandemia.

Em abril deste ano, o governo Federal liberou mais de R$ 2 milhões em recursos para cidades da Zona da Mata prestarem assistência às gestantes e puérperas.

Mortes em Juiz de Fora

Em 10 meses do ano passado, 538 mortes foram registradas, ou seja, em quase quatro meses de 2021, a cidade superou os números de 2020. Ao todo, são 1.426 vítimas desde o início da pandemia, segundo boletim epidemiológico de sexta-feira (30).

O G1 fez um levantamento com base nos boletins da Prefeitura, que considerou a data de óbito de cada vítima e não por divulgação de informativo.

De acordo com os dados, dezembro de 2020 era o mês com mais registros de vítimas fatais pela Covid-19: 203. Em março deste ano, o número foi de 268 e o período se tornou o pior até o momento, com uma média de nove mortes por dia pelo novo coronavírus durante o último mês. Em comparação com fevereiro, que contabilizou 100 óbitos, março teve um crescimento de 268%.

O que dizem os especialistas

Em entrevista ao G1, o ginecologista e obstetra Alexandre César Della Garza Ronzani, responsável por atendimentos na rede pública e privada de Juiz de Fora, explicou que a queda no número de nascimentos pode estar ligadas ao fato de algumas mulheres estarem apreensivas de engravidar em meio à pandemia.

“No início da pandemia, todos tinham muito medo e nós médicos conhecíamos pouco da doença, por isso também orientávamos aguardar para engravidar. Com o tempo de quarentena, acredito que por perceber que iria demorar para passar e até por buscar algo de bom em tanta tristeza, o número de gestações num período da pandemia aqui no consultório aumentou e, agora, com um número alarmante de mortes de gestantes, voltou a cair, porque assusta mais”, explicou o profissional.

Já a médica obstetra e ginecologista Mariana Sirimarco disse que a procura pelo uso de métodos contraceptivos, especificamente o DIU, diminuiu. “Muitas mulheres deixaram de colocar o DIU por medo de comparecer à consulta. Em outros momentos, a inserção foi suspensa pelo risco do momento, o que fez com que o número de mulheres que usam o método diminuísse”, explica.

No que diz respeito a uma possível queda nas gestações, a obstetra informou que a diminuição ocorreu apenas nos dois primeiros meses de pandemia.

Impactos econômicos e demográficos

Quando o número de mortes ultrapassa o de nascimentos, aspectos como economia e demografia também são afetados e refletem na redução da expectativa de vida da população, mudança no perfil demográfico e impactos na formação e renda dos cidadãos.

Segundo o geógrafo e administrador público, Thiago Junior da Silva, o aumento da taxa de mortalidade em comparação com a taxa de natalidade está diretamente ligado à pandemia de Covid-19, portanto, deve ser temporário.

“À medida que grande parte dos brasileiros esteja imunizada, teremos uma queda brusca do número de óbitos e a razão se inverteria outra vez. Todavia, mesmo sendo passageiro, poderemos observar em pesquisas futuras como o Censo, o qual defendo que deveria ter sido realizado este ano, uma redução da expectativa de vida nacional, pois em 2021, nos três primeiros meses, tivemos menos nascimentos por cada morte registrada. Em dezembro de 2020, quando o refluxo da epidemia ainda estava apenas começando, uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) calculou uma queda de 2,2 anos na expectativa de vida dos brasileiros em 2020, primeiro ano da epidemia”, explicou Thiago.

Com o fato de o perfil de contaminados ter sofrido mudanças, afetando não só mais os idosos como também pessoas entre 30 e 59 anos, Thiago ponderou que como nesta faixa etária os cidadãos fazem parte da População Economicamente Ativa (PEA), esse déficit de mão de obra acarretará em impactos na educação e renda dos brasileiros. Não somente pelas mortes, mas também pelas sequelas que o vírus pode deixar em quem foi contaminado, diminuindo a capacidade de trabalho e impactando na renda das famílias.

O geógrafo ressaltou ainda que quanto menos população ativa, menor a contribuição para Regime Geral de Previdência, o que pode acarretar em novas reformas para o mesmo.

Incentivo do Governo Federal

Cerca de 106 cidades da Zona da Mata e Campo das Vertentes vão receber R$ 2.099.046 em recursos para o desenvolvimento de ações estratégicas de apoio à gestação, pré-natal e puerpério, tendo em vista o cenário emergencial da saúde pública nacional, decorrente da pandemia da Covid-19.

O objetivo é fortalecer e garantir o cuidado para com as gestantes e puérperas, além de aprimorar a busca ativa dos casos com suspeita de síndrome gripal, síndrome respiratória aguda grave e o monitoramento dos casos suspeitos e confirmados da Covid-19.

Em Juiz de Fora, o repasse será no valor de R$ 255.290,30.

Fonte: G1

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