29/07/2021 – Arpen/SP – A história de João do Pulo: saltador brasileiro foi detentor do recorde mundial por 10 anos

De sua ascensão no atletismo à alteração no nome e o seu fim trágico, a Arpen/SP salta pela vida de João do Pulo Carlos de Oliveira

 

João Carlos de Oliveira nasceu às 19h35 do dia 28 de maio de 1954, na cidade de Pindamonhangaba, interior do estado de São Paulo. Não se sabe ao certo o ano em que João ingressou no atletismo, mas em pouco tempo se tornou um dos principais saltadores da história do Brasil, angariando não apenas o título de melhor do mundo na modalidade, mas mantendo-o por uma década.

 

“Imagine que ele foi o melhor do mundo por quase 10 anos, entre 1975 e 1985. Acho que a única comparação possível, quando falamos de recordes mundiais, é com César Cielo, que é recordista mundial da natação nos 50m e 100m livres desde 2008”, explica Bruno Doro, jornalista esportivo do UOL e responsável pela cobertura dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 do portal de notícias.

 

No ano de 1975, durante os Jogos Pan-Americanos da Cidade do México, João ganhou a medalha de ouro no salto em distância, esta que o fez recordista mundial na categoria, tendo ganhado fama e notoriedade pela grande conquista. “Sem dúvida nenhuma, a medalha de ouro dos Pan-Americanos do México de 1975 foi o principal destaque de sua vida, quando ainda por cima obteve a impressionante marca de 17,89m, recorde mundial do salto triplo que permaneceu em seu poder por 10 anos”, comenta Marcelo Laguna, jornalista esportivo e criador do blog Laguna Olímpico, do portal Olimpíada Todo Dia.

 

Além da tão importante medalha de ouro que o manteve imbatível por uma década, João Carlos ganhou, ainda, outras condecorações por saltos em disputas olímpicas e panamericanas. “Ele foi duas vezes medalhista olímpico, levando o bronze nos Jogos Olímpicos de Montreal de 1976 e também no de Moscou, em 1980. Nesta ocasião, ele foi prejudicado pelos árbitros soviéticos, que anularam quatro de seus seis saltos na final – um deles tinha certeza que teria saltado acima dos 18m”, diz Laguna.

 

O jornalista Doro também lamenta o ocorrido nos Jogos Olímpicos de Moscou, realizados no ano de 1980. “Esportivamente, acho que os marcos da vida dele foram aquele primeiro Pan-Americano, em que ele quebrou o recorde mundial, e as duas Olimpíadas. Na primeira, em Montreal, ele chegou machucado e não conseguiu competir bem. Na segunda, foi roubado. Muita gente diz que ele quebrou seu próprio recorde mundial nesta final, mas os juízes forjaram um salto queimado. Foi uma pena”.

 

João Carlos vira João do Pulo

Na competição mais importante de sua vida, o Pan-Americano do México em 1975, que o alçou ao patamar de melhor do mundo, João Carlos virou destaque, principalmente entre os outros atletas brasileiros que viram o jovem rapaz fazer história pelo País. “João Carlos virou João do Pulo no Pan da Cidade do México, quando os atletas brasileiros que o encontravam falavam que ele era o ‘cara do pulo’. Quando ele quebrou o recorde mundial então, o apelido pegou”, pontua Bruno Doro. Contudo, o jornalista lembra que João já era “uma estrela do esporte brasileiro” antes de 1975. “Em 1973, por exemplo, o recorde mundial júnior já era dele”, completa Doro.

 

João Carlos agora era conhecido como João do Pulo, famoso saltador brasileiro e o então mais novo recordista do salto triplo. Não há conhecimento de quem foi o responsável pelo novo apelido, mas pode-se ter certeza que João o adorou. 11 anos depois de ficar conhecido como João do Pulo, o atleta tornou seu nome oficial, tendo feito a retificação no Cartório de Registro Civil. Assim, no dia 26 de junho de 1986, João Carlos de Oliveira passou a ser João do Pulo Carlos de Oliveira, alterando o nome, inclusive, na sua certidão de nascimento.

 

A história do nome

Apesar de ser uma prática pouco realizada, e em sua grande maioria ocorrida apenas com figuras de grande notoriedade, como celebridades e políticos, com a Lei nº 9.708, de 18 de novembro de 1998, sancionada pelo então presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, foi admitida a substituição do prenome por “apelidos públicos notórios”, possuindo ainda um parágrafo salientando a não admissão de apelidos proibidos em Lei.

 

Nos dias de hoje, ter um nome é um direito do indivíduo, sendo responsável, também, por inserí-lo nos atos da vida civil. “O nome é um direito da personalidade, previsto como tal no Código Civil brasileiro de 2002, que, pela primeira na legislação nacional, em seu artigo 16, assim o reconheceu. O artigo descreve que toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o nome de família”, esclarece Otavio Luiz Rodrigues Jr., professor de Direito Civil da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).

 

“Sendo que, na Lei n. 6.015/1973, que é a Lei de Registro Públicos, há a obrigatoriedade legal para que se faça a declaração de nascimento, da qual resultará o registro civil. Nele obrigatoriamente figurará o prenome e sobrenome que foram atribuídos ao nascido”, comenta. “A posse de um nome é uma condição fundamental para que se possam exercer atos na vida civil. Em síntese, é esta a natureza jurídica e a função jurídica do nome: um direito da personalidade e um instrumento para o exercício dos direitos civis”, adiciona o docente.

 

Já para a inclusão de apelidos no nome, o professor da USP salienta que esta prática já era realizada há muitos anos na História humana. Segundo ele, um exemplo clássico é o nome de Júlio César, político romano que viveu entre os anos 100 e 44 a.C. O nome da ilustre figura no português brasileiro é citado como “Caio Júlio César”, do latim “Caius (ou Gaius) Iulius Caesar”.

 

“Caio é o prenome, e Iulius indicava sua família de origem, Júlia – embora no português moderno Júlio e Júlia tenham-se convertido em prenomes, mas eram “nomes de família” –, e César é uma espécie de apelido, que chamamos juridicamente de cognome. César, no caso, significa cabeludo. É como se o nome dele fosse ‘Caio, da família Júlia, o cabeludo’.  Esse cognome seria uma característica pessoal pela qual ele ficou conhecido”, pontua Otavio Rodrigues. Haveria também os agnomes (Júnior, Neto, Terceiro).

 

Na modernidade, o apelido se manteve como exemplo de nomeação de algo ou alguém. No caso de pessoas, muitas figuras públicas são conhecidas apenas por seus apelidos, que em alguns casos foram incorporados aos seus nomes civis. O professor citou alguns dos exemplos mais notórios de inclusão de apelido no registro civil, como no caso da apresentadora Xuxa e do ex-presidente Lula. “Luiz Inácio da Silva virou Luiz Inácio Lula da Silva e Maria da Graça Meneghel tornou-se Maria da Graça Xuxa Meneghel”.

 

“Estes nomes não eram de família, eles passaram a se incorporar aos nomes porque a legislação brasileira permite que assim se faça. É possível acrescentar ao nome um elemento que descreva alguma característica pela qual você ficou conhecido”, diz o professor. Enquadra-se nesse exemplo o caso do atleta João do Pulo, famoso no Brasil em razão de seus saltos, ou de forma mais coloquial, por seus “pulos”.

 

O trágico e breve fim de João do Pulo

Antes mesmo de retificar seu nome no Cartório de Registro Civil, João do Pulo já havia finalizado sua carreira de atleta. Isso porque no dia 22 de dezembro de 1981, há quase 40 anos, João sofreu um grave acidente de carro em São Paulo, que custou a sua carreira, que ainda estava no auge, ao precisar amputar a perna direita. “Sabe aquilo que todo mundo diz que o atleta vive duas mortes, uma quando termina a carreira esportiva e outra quando ele realmente morre? Acho que para o João do Pulo isso foi ainda pior. A carreira dele acabou muito cedo, aos 27 anos. E pior: ele ficou sem uma das pernas”, analisa Bruno Doro.

 

“O acidente foi determinante em sua carreira, além de quase lhe tirar a vida. João ficou meses internado e apesar dos esforços médicos, teve sua perna amputada, quando ainda teria mais uma Olimpíada pela frente, com certeza”, lamenta Marcelo Laguna.

 

Com o acidente, João, que estava em total ascensão na época, teve que lidar com muitas dificuldades. O atleta teve que aprender a viver com uma perna a menos, e com todos os desafios de uma pessoa com deficiência. E além das adversidades físicas e pessoais, João do Pulo viveu intensos momentos de depressão e alcoolismo, motivo este de sua morte.

 

“A carreira como atleta acabou. Não é possível ser um atleta de salto triplo com uma perna a menos, e naquela época, o esporte paraolímpico ainda não tinha a abrangência atual. Com a potência física do João, se tudo tivesse acontecido hoje, talvez ele pudesse ter continuado como atleta em outra modalidade paraolímpica. Mas como aconteceu na década de 1980, ele parou”, diz Doro. “E o impacto na vida dele foi trágico. João foi militar desde os 18 anos e manteve o posto depois do acidente. Ele morreu como tenente. Mas também foi político, eleito deputado estadual em duas eleições. Também tentou vários negócios, mas não levava jeito”, recorda.

 

“Ele sempre teve de lidar com a depressão, que levou ao alcoolismo. Quando eu e o Vanderlei Lima, meu colega no UOL, falamos com a família, ficou claro que João era um homem triste em seus últimos anos, alguém que bebia para tentar amenizar a falta que a carreira de atleta fazia. Ele sofreu, a família sofreu, quem gostava dele sofreu, com esse final”, conclui o jornalista.

 

Após anos trágicos, foi no dia 29 de maio de 1999, com apenas 45 anos, na cidade de São Paulo, que João do Pulo Carlos de Oliveira faleceu devido às complicações de uma cirrose hepática. João do Pulo foi um ilustre atleta brasileiro, tendo sido extremamente importante para a história do País, tanto no atletismo como no salto em distância. Sua história de força e conquista jamais será esquecida.

 

Fonte: Assessoria de Comunicação – Arpen/SP

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